Dia 18 de maio foi escolhido não como uma data festiva, ou um marco; mas como um sinal, um alarme, que não pode ser silenciado. Foi por conta de tanto tempo de silêncio que muitas pessoas, mesmo adultas, carregam no corpo e na alma as marcas dos conflitos que repercutem na cabeça de uma criança que passou por qualquer tipo de abuso, especialmente o sexual.
Imagina-se que você enquanto criança, brinque, receba amor, carinho, corra atrás de bola, brinque de boneca, bila, solte pipa.. vá para a escola, seja cuidado e disciplinado. Que suas únicas preocupações e obstáculos sejam a lição de casa e as provas. Imagina, agora, tudo isso sendo trocado por repetidos atos abusivos vindo, dia após dia, de pessoas em quem você confia, com quem você convive e de quem você deveria receber todas as orientações de valores, do que deveria ser certo e ou errado?
Imagina a confusão na cabeça de uma criança que olha para alguém que lhe inspira confiança e expectativas de fazer o melhor e por amor. Imagina você conectar amor com dor? Amar seria sinônimo de machucar? O que para muitos parece paradoxal, para uma criança vítima de abuso é uma realidade que o acompanhará por toda sua vida.
Não se pode apagar o que aconteceu, as feridas podem até cicatrizar, mas ainda estarão lá em tempo integral. A uma criança vítima de abuso sexual restam os sentimentos de culpa
(pelo prazer que o despertar sexual pode gerar), o medo (de amar e ser amado, afinal, foi “por amor” que ficou machucado), o nojo (daquilo que não quis, mas que foi obrigado a se submeter), e tantas outras emoções que fazem-na confundir seu status de vítima se enxergando como culpada.
O abuso sexual é tão silencioso porque é ignorado pelas vítimas que preferem não revisitar tanta dor a qual foi submetida, pelas famílias que não conseguem enxergar os sinais (porque são sutis demais) e pelas próprias autoridades que alegam não ter como comprovar, não existem vestígios palpáveis; mas que são reais demais para quem passa.
A nós, enquanto sujeitos sociais? Cabe o cuidado e a prevenção; a atenção aos pequenos sinais, sendo alguns deles: mudança de comportamento e proximidade excessiva tanto da criança como do abusador, a criança acaba regredindo em suas habilidades sociais, mentira motivada pelo medo das ameaças feitas por parte do agressor; a criança começa a depreciar sua aparência e seus brinquedos, bem como a descompensação da sexualidade.
Estejamos atentos e vigilantes. Falemos sobre o assunto, especialmente com as crianças, até que esse assunto seja tão barulhento e uníssono ao ponto de até os surdos ouvirem. Precisamos zelar pelo bem estar físico, emocional e espiritual das nossas crianças. É nossa responsabilidade, não podemos demandar a terceiros.
Por Gleiciane Nobre