É possível construir uma relação livre de mentiras? Seria hipocrisia dizer que em um relacionamento, especialmente entre casal, é fácil não contar nenhum tipo de mentira. Todos nós mentimos, em muitos casos fazendo uso das comuns “mentiras sociais” – não falamos a verdade sobre nossa opinião para não desagradar o outro. Mas o fato é que, ao fazermos isso, reforçamos no outro aqueles comportamentos ou características que não nos agradam. Ora, se em uma relação é preciso que ambos se conheçam muito bem, é necessário que se encontre no diálogo a melhor forma de dizer a verdade. É claro que ninguém deve sair apontando no parceiro tudo aquilo que não lhe agrada sem ao menos medir as palavras, mas se você não gosta de ganhar flores e nunca disser a verdade, vai continuar ganhando flores e o outro vai continuar acreditando que é disso que você gosta. É um exemplo simples, mas que pode se estender a vários pontos do relacionamento.
Existem aqueles que mentem de forma patológica – os mitômanos – e, neste caso, é incontestável a necessidade de uma ajuda profissional. Mas mesmo quando a mentira não se trata de uma patologia, é preciso ficarmos atentos em sua ocorrência dentro de nossas relações. Isso porque, além das mentiras sociais já citadas, há outros tipos de mentira que são contadas no relacionamento e que podem, aos poucos, minar a confiança e tornar a convivência muito mais penosa.
Algumas pessoas preferem contar mentiras do que se alongarem em uma explicação, por exemplo: sair para encontrar com alguns amigos depois do trabalho e mentir para o parceiro que, na verdade, precisou trabalhar até tarde. Esse tipo de comportamento é muito comum, mas alerta para um relacionamento que inspira atenção. Primeiro pelo fato de que, se há a necessidade de se ocultar uma saída com os amigos, é porque a confiança já está fragilizada ou porque não existe liberdade e respeito à individualidade do outro nesta relação. Então é preciso entender em qual momento e por qual motivo essa confiança começou a se danificar ou compreender quando a liberdade deixou de ser respeitada (ou se ela nunca existiu). O segundo fato é que, ao mentir para evitar uma explicação ou discussão, a confiança fica ainda mais prejudicada e fica cada vez mais difícil construir uma relação que seja saudável para ambos. – Qual a abertura que há nesta relação para um diálogo, para a compreensão das necessidades e desejos de ambos? Por que essa mentira me parece tão necessária em minha relação? Teria outra forma de lidar com a situação que não seja fazendo uso da mentira? – são algumas questões que precisam ser pensadas.
“Ah, mas uma mentirinha não vai fazer mal”. Mas de mentira em mentira é que a relação se desgasta, é preciso que esse hábito seja cada vez menor em nossas relações e que passemos a enxergar não o benefício da mentira contada (“evitar uma discussão”), mas o tumor que ela alimenta (“não ter alguém com quem construir uma relação confiável”). Há pessoas que, somente pelo fato de mentirem, não confiam no outro – inclusive no parceiro de relacionamento – pois acreditam que este também pode mentir para elas a qualquer momento.
Ou seja, cria-se um ciclo de falta de confiança onde um relacionamento saudável e duradouro é totalmente inviável. A sinceridade é o melhor caminho para construir uma relação sólida e, ao mesmo tempo, leve.
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